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Esta carta aberta ao Papa Francisco já é viral

O Papa Francisco já está em Portugal, no âmbito das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ). Após a chegada ao Aeroporto Figo Maduro, na manhã desta quarta-feira, 2 de agosto, o Santo Padre já se encontro com Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém.

Um momento sempre histórico. Desde 2017 que Francisco não vinha a Portugal, ele que é apenas o quarto Papa a visitar o nosso país, e uma das figuras mais marcantes da história, pela mensagem que tem espalhado pelo mundo, entre os mais e os menos crentes.

Nos últimos anos, a saúde do Papa Francisco tem-se deteriorado e, aos 86 anos, esta pode ser a sua última visita a Portugal, enquanto Sumo Pontífice. Também por isso, e independentemente de toda a polémica pelos gastos da organização das JMJ em Lisboa, o jornalista Luís Osório convida a todos que aproveitem este momento marcante.

Uma carta aberta sobre o Papa Francisco e que já conta com centenas de partilhas. Leia as palavras que se estão a tornar virais nas redes sociais:

“Francisco dançará connosco o seu último tango

1.

O Papa chegará amanhã a Figo Maduro às dez da manhã.

Já tudo ou quase tudo se disse.

Francisco tem 86 anos e uma saúde frágil. É provável que não volte a Portugal, provável que a sua vida não se possa estender muito mais anos.

Amanhã, no final da madrugada, entrará num carro que o levará ao aeroporto. Duas horas depois aterrará neste nosso tão instável país.

2.

Tem sido a minha batalha, talvez inglória.

A de te dizer que será um privilégio aproveitar a vinda deste homem que nos ofereceu esperança, que nos soprou a palavra que, ao mesmo tempo, nos permite o milagre de voltar a acreditar e nos condena à inapelável desilusão do confronto com a realidade.

Temos de aproveitar Francisco enquanto aqui está.

De lhe agradecer a chispa de luz que continua a sair do seu corpo, do seu olhar terno, das suas desarmantes palavras.

Recordo-me de o ter visto a lavar os pés a um preso transsexual na Quinta Feira-Santa, noite em que se celebra a Última Ceia.

Lembro-me de o ter observado na visita que fez a um albergue de prostitutas. A maneira como as ouviu, como com elas trocou correspondência.

Lembro-me daquele homem deformado que nos obrigava a virar a cara, o modo como Francisco se aproximou e o abraçou e lhe beijou as feridas durante uns segundos que me pareceram a eternidade.

Lembro-me de Francisco celebrar a missa para uma Praça de São Pedro deserta pela força de uma pandemia que nos ameaçava com o holocausto.

Lembro-me de como convocou as vítimas de pedofilia para o palácio, de como incentivou os bispos em todo o mundo a abrirem as suas caixas de Pandora.

Lembro-me de o ver com crianças, a responder-lhes a todas as perguntas ou a pedir aos artistas para não se esquecerem dos pobres.

Lembro-me quando nos disse que era humano, que gostava de futebol e que adoraria poder voltar a passear incógnito nas ruas de Buenos Aires e a dançar um tango de Piazolla com uma mulher bonita.

3.

Sabes o que Francisco disse a Tolentino Mendonça quando o conheceu fora dos cumprimentos de circunstância?

“Senhor padre, acha que me pode conceder cinco minutos do seu tempo?”

Tolentino ficou atrapalhado, sem saber onde meter as mãos e o sorriso.

“Sua Santidade, o senhor é que me tem de conceder um bocadinho do seu tempo”.

E eles foram e encontraram-se no pequeno quarto de Tolentino, divisão que lhe fora destinada num retiro em Roma que, à última da hora, soube que teria a presença de Francisco.

Falaram quase uma hora.

E sabes do que falaram?

De Fernando Pessoa e de Jorge Luís Borges.

E no final da conversa, Francisco fez silêncio e perguntou a Tolentino se queria rezar com ele.

4.

Estas jornadas são decisivas para o que acontecerá após sua a partida.

Um homem que nos convoca para a ideia de pertença, para o martírio da esperança, para a urgência de questionamento, para a responsabilidade de estar à altura, para a vontade de combater por um mundo mais largo, para a constatação de que um ateu ou um agnóstico é também filho de Deus – mesmo que para ateus e agnósticos Deus continue a não existir.

E nele não há ponta de medo, já repararam? É como se levitasse por entre contrariedades, obstáculos, inimigos – que os tem e não tão poucos quanto isso.

4.

Impressionante como não se deixou corromper no olhar, a sua mais poderosa das armas. Um olhar capaz de devolver a dignidade aos que estão na cave do mundo, veremos isso quando o virmos rezar em Fátima ajoelhado e ao lado de alguns jovens a cumprir pena no Estabelecimento Prisional de Leiria.

Ou quando o virmos entre os miúdos de todo o mundo com os seus olhos de criança grande.

Teremos tempo para discutir as coisas más da Igreja e a relação com o Estado.

Mas amanhã chegará Francisco.

Um homem que tendo feito tanto, que tendo aberto tantas portas, continua a precisar do abraço do mundo para que a revolução não morra com ele.

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