Famosos

A luta de Sara Tavares contra o cancro que emociona a todos

Foi em 2009 que Sara Tavares foi diagnosticada com um tumor cerebral benigno. A cura deixou-lhe mazelas e revelaria mais tarde que ficou a padecer de epilepsia. Tudo isso mudou vida e carreira de uma cantora ímpar em Portugal, que esteve muitos anos afastada da música, com todos esses problemas de saúde.

Em 2022, os problemas agudizaram-se e Luís Osório, o conhecido jornalista, dedica-lhe agora o seu ‘Postal do Dia’, para falar sobre a sua admiração por Sara Tavares, mas também sobre as injustiças da vida.

Um texto imperdível, que já é viral nas redes sociais:

“Sara Tavares, a quem a vida tudo deu e quase tudo tirou

1.

Portugal é um país pequenino.

Acabamos todos por nos conhecer e até nos convencemos que almoçámos ou falámos com quem jamais se cruzou connosco.

Nunca me cruzei com a mulher de quem te quero falar.

Nunca estive na mesma sala, nunca a vi sem ser num espetáculo no Teatro São Luiz, ao longe.

Mas admiro-a no que dela acredito conhecer.

Aposto que é uma mulher forte e teimosa que gosta de escolher o seu caminho, que prefere errar sendo ela do que acertar sem que o resultado venha de si, das suas urgências, dos seus medos, da sua profunda inquietação, da sua raiva também.

2.

Talvez seja a melhor voz da música portuguesa.

Pelo menos a voz mais inteligente, a que se foi adaptando ao que vida quis que fosse.

Falo-te de Sara Tavares.

A Sara a quem a vida deu e tirou.

A quem a vida desafiou como se tudo isto fosse um jogo, como se o seu destino já estivesse desenhado numa qualquer roleta russa.

Deu-lhe tudo, retirou-lhe tudo.

E que perversa tem sido a vida para a Sara.

Sempre quente e fria.

Sempre a oferecer-lhe sonho, mas a acordá-la com pesadelos.

Sempre a dar-lhe ilusões, mas a carregá-la de medo, de dúvida, de cansaço.

3.

A Sara que apaixonou o país quando cantou no concurso Chuva de Estrelas.

Lembras-te?

Tinha 16 anos quando apanhou o barco de Cacilhas para o Terreiro do Paço e depois o autocarro para os estúdios. Cantou Whitney Houston e tudo lhe pareceu ser possível.

Crescera sem os pais – a Dona Eugénia, branca, foi a avó que a mimou. Uma avó emprestada no Pragal, lugar onde era feliz quando corria ou mergulhava ou ia à pesca com canas feitas de espigas.

Feliz enquanto jogava à bola como os rapazes.

Mas havia qualquer coisa. Um ruído interior, uma tristeza que se tornou matéria viva. A ausência dos pais, a ausência de carinho, de colo, uma espécie de solidão que não dependia da quantidade de amigos e da rede de amor de Dona Eugénia.

4.

A Sara transformou-se numa estrela.

Ganhou o Festival da Canção, mas não queria ser uma estrela a cantar o que não lhe dizia nada. Por isso, foi à procura. Compôs, convidou produtores e músicos de que gostava, fez álbuns marcantes e amados pela crítica.

E teve de parar por causa de um tumor no cérebro.

Um tumor benigno que resolveu com uma operação.

Retomou e parou.

Voltou a retomar e voltou a parar.

E agora, em 2022, uma recidiva.

Problemas na voz, impossibilidade de tocar guitarra, problemas e mais problemas, adaptações mais adaptações.

Mas continua.

Deixou a sua equipa, quis ficar sozinha.

Mas continua viva.

Desperta para as injustiças, para o racismo, para a hipocrisia mascarada de oportunidade.

Continua a viver no Pragal, o lugar com vista para Cacilhas e o Cristo-Rei.

É uma mulher do caraças.

Uma mulher poderosa.

Com um talento extraordinário e uma relação com a vida que talvez Deus ou um querubim um dia lhe possa explicar.

Porquê sempre isto?

Este dá e tira, este carrossel que é comboio fantasma, esta luz que se torna sombra?

A Sara Tavares é bem capaz de fazer estas perguntas, mas por favor não tenhas pena dela.

Porque ela é grande e precisa de tudo menos disso, precisa de ser ouvida, que a oiçamos sem mais nada.

Ouve Mana Fé e não tenhas pena.

Só reconhecimento de que a vida é uma carta fechada para todos, incompreensível bastas vezes, absoluta”.

https://www.facebook.com/photo/?fbid=6990871847609775&set=a.158063474224014

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo